26.7.11

Capítulo Final - parte II (a outra cordada)

Noite FRIACA, mesmo tendo dormido em um refúgio, e não na barraca. A tempertura dentro do saco de dormir (que aguentava até -8 como zona de conforto) estava TUDO, de menos agradável.

Olho o relógio, 01h00. Saímos do abrigo e vimos o céu pela primeira vez, São Pedro recebeu as cartas encaminhadas pelos amigos da ROKAZ e por outros que por nós torciam (valeu moçada!): céu estrelado, nenhuma nuvem. Mas logo veio à cabeça o dia do ataque ao Pequeno Alpamayo, quando saímos da barraca às 02h00 e o céu estava da mesma forma, bem limpo. Nesse dia vimos como é impressionantemente fácil o clima mudar de uma hora pra outra.


Quando saímos do refúgio - animados, tensos, com frio (-5 C) e ansiosos para começar logo - calçamos os crampons, ajeitamos as mochilas, pegamos os piolets e nos desejamos a todos boa sorte em simples olhares e gestos. A hora tinha chegado! Infelizmente, foi a primeira noite que separamos de qualquer membro da equipe, no caso o Gira. Imaginamos como seria bom se ele estivesse lá!

Saímos juntos, 01h15, cada um de nós (eu e Léo) com seu kit pessoal: 500ml de água quente/quatro carb's em gel/duas barras de proteína e um chocolate. Começamos em um ritmo tranquilo, mas logo percebemos que, naturalmente, íamos um pouco mais rápido que a cordada Marco-James-Bruno.

Na primeira parada, após uma longa subida, ficamos alguns minutos esperando por eles (tempo muuuuito longo no frio!) - o que aumenta o desgaste na montanha - e assim que nos alcançaram tratamos de voltar ao movimento. Eles ficaram um pouco para descansar, foi quando começou a aumentar a distância entre os trios.

Já na segunda parada nossa, olhamos para trás e não encontramos eles mais, estavam "escondidos" atrás de algumas curvas. Resolvemos que não daria para esperar, devido ao frio (que só aumentava), e a partir daí empregamos nosso ritmo. O consumo de água era mínimo, apesar de nao ser o ideal, mas só de pensar em tirar a parafernalha toda para eliminar um pouco de uréia já incomodava. Mesmo assim, não deu. Tivemos que fazer uma parada ainda na subida pra aliviar a bexiga (dá trabalho viu - 2 luvas, cadeirinha, 2a pele e, pra coroar, a calça não tinha ziper!).

Cada passo a mais era um passo a menos! Nos perguntávamos com frequência: - E aí? A resposta era sempre a mesma: - De boa demais! Toca toca! Mas sempre sem saber o que viria, ou quanto faltava até o cume (que na verdade é só a metade do caminho), o que não nos deixava 100% tranquilos.

O clima permanecia bom, mas não parei de olhar pro céu nem um minuto, e dizia pra ele: Só mais um pouco, aguenta aí. Ajuda a gente!


Começo a filmar os últimos metros após a crista (coisa de +-1minuto). O vento é um absurdo, mais de 100km/h. A emoção começa a explodir, mais ainda está um pouco contida. Ainda está um breu, só é possível ver o chao iluminado pelas head lamps, as luzes de La Paz (El Alto) e os contornos montanhosos do horizonte. Não importa, posso apostar que a sensação é a mesma!!!

05h25 - o guia crava o piolet e nos dá a notícia: "Muy bien. La cumbre"! E nossa reação é repetida pelo guia: "La Cumbre, CARAJO!!!!" Depois disso é só alegria.

Sem a luz do sol, mas sob belas estrelas olhamos o relógio! É difícil conter a emoção e, por alguns instantes, você tem um flashback de tudo importante da sua vida. Nos abraçamos e aí sim começamos a falar tudo o que pensamos e de todos que lembramos (e nos deram forças) enquanto subíamos. Lembrei demais da Fefê, minha namorada, e o quanto gostaria que ela estivesse comigo também.

Na descida, logo após a crista, encontramos Marco-Bruno-James e ficamos muito felizes por estarem ali, pois aida não sabíamos se ainda continuavam na empreitada! Foi muito bom ver que todos estavam bem, juntos! Trocamos uns socos e tapas nas costas (de forma nórdica-viking amígável) e desejamos boa sorte a eles. Sabíamos que como já estavam ali, iam conseguir!


Assim que acabou a crista e chegamos numa parte mais aplainada da montanha, na sua face leste, veio o prêmio: o nascer do sol indescritivelmente mais bonito que já vimos! Nesse momento olhamos lá pro cume, e imaginmos o certo - o Bruno - James - Marco alucinando também! E aí já não importava mais o frio e vento, mas fazer fotos para documentar os momentos era mais que uma obrigação, quase que uma atitude em respeito ao espetáculo que a natureza nos provia. Descer é um suplício - os joelhos doem, o corpo já não responde 100% aos comandos, os passos vão se arrastando... mas o cume parece um recarrecador de baterias, e a empolgação e satisfação que sentíamos nos movia montanha abaixo. É nítida essa diferença se comparamos com o sofrimento de descer do Pequeño Alpamayo, frustrados com a desistência imposta pela montanha.

Continuamos a descida, e lembro-me de ter cruzado com o último grupo, que era composto por casais de idosos, com idades entre 70 e 80 anos! Eram austríacos, e estavam muito bem! Não tivemos notícias se chegaram ao cume, mas ir até onde cruzamos já era um feito! (foto)

08:30 - Já no Campo Alto (7h20min depois), exaustos mas enfim satisfeitos, cada um se enfiou como pôde, sacando apenas os crampons e botas, no saco de dormir. Com poucas palavras trocadas, e uma mistura de expressão de cansaço extremo e sorrisos estampados nas caras, dormi em 20 segundos... e a cada pessoa que chegava, abria 1/4 do olho pra ver se eram o trio Bruno-James-Marco, para comemorarmos!

09:30 - Chega o trio bem sucedido! Cada um contando como sofreu, como curtiu, como cansou, enfim, já fazendo a retrospectiva daquelas horas que certamente foram das mais emocionantes e fortes das nossas vidas.

Dois ensinamentos bem aprendidos:
- Apesar de almejar muito ao longo de toda a viagem, o cume é bônus! O que vale é a diversão na montanha (ou perrengue - o que não quer dizer que nao é divertido também,rs.).
- Nossas avós já diziam: "O apressado come cru", no nosso caso, o cume no breu .rs.








19.7.11

Café T.V. convida: My First Mountain.....






Então, quem foi adorou, quem não foi perdeu! Muitas risadas, muitos casos, muitas fotos e muita gente! Valeu galera que compareceu ontem no Café TV no Café com Letras!


O Gira chegou mais cedo para salvar a montagem da exposição!


O Café agora está com um ar de montanhas!






Caê com sua risada clássica de olho fechado!

Apresentação curta








15.7.11

Café T.V. convida: My First Mountain


Nessa segunda dia 18/07 a partir das 19h30 você confere na íntegra todas as fotos da viagem no projeto Café TV! do Café com Letras. Serão dois projetores mostrando todos os momentos da nossa aventura.
Além disso o Café inaugura uma exposição temporária das 25 melhores fotos.
Mas, não desligue agora, porque ainda tem mais, vai rolar drinks, Revistas Raggas e sorteio de Posters!
Te espero lá!

7.7.11

O Capítulo Final!

Diário de Viagem:

Dia: 7/7/2011

São 12:00pm, encosto a minha cabeça no vidro da van e penso: estou exausto! Olho o Huayna Potosi pela janela, uma nuvem se dissipa e vejo a luz do sol banhar o seu imponente cume de 6088m. Sinto como se a montanha olhasse de volta. Poucas pessoas no mundo sabem o significado daquele lugar. Passo a mão no queixo e sinto a minha barba de duas semanas roçar os meus dedos calejados. Essa barba resume a nossa jornada....esforço, alegrias, sofrimentos, aprendizado, amizade. Olho para o relógio e me dou conta que estou acordado desde o dia anterior, mas parece que se foram dias desde o ataque...


São 00h00, acabamos de acordar. Levantamos antes de todos para ter uma trilha limpa e sem retardatários. E também pelo fato que temos que preparar nosso café antes de sair. Ligo minha headlamp e saio catando tudo que deixei separado no dia anterior. Não dormi quase nada, do meu lado estava uma israelense com mal de altitude tossindo, fungando, chorando e remexendo a noite, quer dizer, a tarde, inteira. Tomo o remédio para dor de barriga e torço para que dure as 8h necessárias para subir e descer já que é a última pastilha. Temos uma hora para nos preparar...

01h15, partida oficial após colocarmos os Crampons nos pés. Tomo o último red bull do nosso estoque após o café da manha. Dividimos a expedição em duas equipes. Uma cordada com o Leo e o Cae, e a outra comigo e o James. Meu coração se aperta, lembro do Thiago (Gira), que passou mal ao subir do acampamento base para o alto e teve que regressar no dia seguinte. Sei o quanto ele queria estar aqui, mas a montanha impõe limites inesperados.

02h25, fazemos a primeira parada, a estratégia é um carboidrato em gel, um gole de água, um gole de gatorade e um pedaço de chocolate a cada stop. Achamos o nosso ritmo, as duas cordadas se separaram, os meninos sumiram na frente e a equipe que estava na nossa cola sumiu lá atrás....

03h25, it's a mind game! tento desviar a minha atenção do desconforto constante...penso no cume e na alegria que terei ao escrever meu nome nas paredes do abrigo alto...

03h40 um escocês nos ultrapassa na trilha com o seu guia. O guia está carregando sua mochila. Eu me lembro da minha camera de 2kg nas costas e mentalmente solto um palavrão.

03h50, o cume não chega nunca, mas tento pensar em outras coisas, recordo de todas as lindas mulheres que tive a honra de conhecer, nos lugares fantásticos que visitei, nos bons amigos que fiz, nas boas refeições que desfrutei, nas fotos que sempre levarei na lembrança, nas boas fortúnias, nas chances de aprendizado, tive uma vida boa, até agora...me perguntam como estou, nao me sinto forte, então não estou bem, mas não vomitei e ainda me consigo me manter em pé, então não estou mal. A única opção é continuar.

04h20 penso nos meus pais, que se foram tão jovens, e há tão pouco tempo, esse cume é para eles também. É uma prova de que posso sobreviver, de que vou dar conta, de que posso me bastar, vou resistir as obstáculos que se apresentarem nessa vida. Quando o ser humano se propõe a alcançar uma meta conta com uma força que como um ima o atraí para sua culminação, essa força se chama vontade.

04h50 Começou a ventar, e ventar muito, estamos caminhando há quase 3h na escuridão total. Porque subimos motanhas? Me recordo de novo: it's a mind game! Tento lembrar de algo feliz...

05h10 quarta parada, estamos exaustos, a subida é interminável! Engulo o último carboidrato em gel. A minha água congelou e o gatorade acabou na última parada. O Marco, nosso guia de repente grita a aponta - Chicos! Esta logo ali!
Olhamos para cima e vemos a sombra do cume. Ele realmente existe! Vamos chegar! Temos que chegar! Somos preenchidos com um novo ânimo que estranhamente nos põe de pé.

05h40 Chegamos ao pé da crista, que é a subida final e mais difícil e técnica até o cume. Encontramos a outra cordada. Léo e Caê estamos em extase. Fizeram o cume e já estão descendo. A alegria de reunir todos é tão grande e meus olhos se enchem de água. A expedição já é um sucesso. Nos abraçamos e eles nos desejam boa sorte. No fundo penso, agora nada vai me impedir! Esse cume é nosso!

05h50 Largamos nossas mochilas na base da aresta para o ataque final, separo a camera, mas ainda não há luz

06h00 o sol nasce e estamos na crista! A vista é indescritível, talvez a mais linda que meus olhos já testemunharam. Os ventos a mais de 100kmh, estamos engantinhando em um aresta fina e qualquer deslize pode resultar em um acidente sério. Não é hora para vacilos. Vamos nos arrastando lentamente e nosso guia Marco não para de gritar um minuto: Cuidado! Em Frente! Seguro! - Já consigo finalmente ver o cume!

06h10 Chegamos! Abraço o james e penso: nossa amizade de 12 anos se fortalece no cume do Huyana Potosi! Não é mais possível conter o choro. O turbilhão de emoções domina! Lutas, sacrifícios, projetos, idéias, conquistas, vivências. Aquele lugar representa tantas coisas e chegar lá te transforma em uma outra pessoa. É como se as referências mudassem, não pelo objetivo, mas pela trajetória até ele. Conquistamos our first mountain! Me recordo de todos aqueles que nos ajudaram a chegar lá e silenciosamente lhes envio um Muito Obrigado dos 6088m.

06h30 É hora de descer! Uma energia mística nos dá força e descemos com sorrisos estampados na cara. Uma sensação de dever cumprido nos domina.

06h45 o vento na crista aumentou e somos balançados como roupas num varal. O cuidado é redobrado e agora com mais luz percebo o quão estreita é a crista e que roubada é passar por ela.

07h30 James comenta que de noite não parece que passamos por todos esses lugares e o guia responde: porque você acha que atacamos a noite?

09h30 chegamos ao acampamento alto e encontramos nossos companheiros nos sacos de dormir. Risadas, histórias, roubadas e milhões de comentários sobre o sucesso da expedição. Aos poucos os outros montanhistas vão chegando e o abrigo vira uma festa de conversas paralelas. Os mais fortes ajudam os mais fracos a se recuperar. Não temos mais água, mas encontramos um saco de maçãs que é dividido entre todos. Sem dúvidas, foi a melhor maçã da minha vida! Temos 30min para descansar antes de descer com tudo.

10h00 após arrumar tudo correndo, me pergunto porque não temos um porteador para descer nossas coisas. A cargueira de 90L parece ainda mais pesada após o cume...

11h30 descanso encostando a cabeça nos bastonetes amaldiçoando a trilha mista de neve e pedras soltas. Os quase-tombos são uma constante na última hora...já posso ver o acampamento base!

12h00 encosto a cabeça no vidro da van e penso: Estou exausto! Mas estou muito, muito feliz! Adeus Huayna Potosi!




exaustos no cume...





descansando na descida....




6.7.11

Huyana Potosi: Campo Alto

Diario de Viagem
Data: 06/07/2011

Acordamos por volta das 8 da manha para arrumar as mochilas já que no dia anterior nosso "receptivo" afitriao e futuro guia havia informado que nosso café seria as 8:30, após todos os demais grupos. A idéia era tomar café, esperar pelo Marco(Nosso guia do Pequeno Alpamayo) que estaria descendo do campo alto com clientes do dia anterior, tomar uma sopa e comecar a caminhada para o campo alto por volta das 10 da manha.



Durante a noite dormir era um pouco difícil dadas as várias tonalidades de roncos, suspiros e passos, mas pudemos observar que o tempo melhorou bastante, podia-se ver estrelas no ceu, o que poderia indicar que naquela noite alguns grupos já sairiam para atacar o cume.

O efeito devastador da pizza assassina ainda perdurava sobre tres membros (Eu, Leo e Bruno) o que nao só ajudava a diminuir a moral mas também atrapalhava a hidratacao como um todo(fator crucial numa montanha).

Para aqueles que ainda nao conhecem, nosso caso ate alguns dias atras, vou abrir um pequeno parentenses para comentar sobre a situacao dos banheiros nos abrigos de montanha na bolivia(ganhamos bastante experiencia nessa area):

1- Os banheiros nunca ficam dentro do refúgio, normalmente a uns 20-30 metros da entrada, o que pode parecer banal, mas imagine voce tendo que acessá-lo a noite, a menos 10 graus, com uns 30 cm de neve no chao e un vento de uns 80kmh!

2- Em geral tem apenas 1 vaso para todo o refúgio(haviam umas 40 pessoas por lá)normalmente sem tabua;

3- A estrutura da casinha é de pedra vasada,isso somado ao vento citado acima gera um resultado espetacular;

4- Nao há descarga, após o término voce precisa pegar um baldinho que fica ao lado do vaso, caminhar uns 5 metros até uma pequena lagoa congelada, quebrar o gelo superficial, coletar a agua e jogar no vaso para levar tudo embora, repita a operacao algumas vezes(No caso do campo alto essa parte nao existe e a coisa é apenas uma fossa que vai formando uma pilha);

5- A cereja do bolo é derivada da uniao de dois itens acima, ao jogar agua no vaso inevitavelmente alguma quantidade cai no chao ao redor do mesmo, somado as temperaturas congelantes,um gelo fino e deslizante se forma desde a entrada e ao redor de todo o vaso, transformando o banheiro em uma mini pista de patinacao sem patins.

Bruno saindo de um dos banheiros 5 estrelas:



Iniciamos a subida com 1 hora de atraso, a trilha era um misto de neve e pedra extremamente inclinado. Para mim já parecia que estávamos atacando o cume. Como nao pagamos porteadores nem mulas tivemos que subir com as mochilas mais cheias que da última vez. Fora duas horas extenuantes, me senti muito pior do que no dia do ataque ao cume do Tarija(tentativa do pequeno alpamayo)e sinceramente duvidei da minha capacidade de fazer o cume pela primeira vez desde o início de toda a jornada.






Chegamos ao campo alto, eu estou exausto, faminto e muito ansioso pelo o que ainda virá. Também nao teremos conzinheiro dessa vez, logo perderemos tempo precioso de descanso preparando nossa comida, além disso o abrigo está lotado e a disputa por lugar para descansar será feroz. Para piorar acabamos de decobrir que ao contrário do prometido nao teremos pratos nem talheres, mais um ponto para nosso "amigo" e guia Fred!

Campo Alto:



Bandeira de Minas com assinaturas de varios amigos que fizeram o cume. Destaque para Alexis e Coralie, é Rokaz no cume! Será que colocaremos a nossa aí?



Sem Pratos ou Talheres:



O Fred, "Gente Boa":



Teremos aprox umas 3 horas de sono antes de sairmos para o ataque ao cume(acordaremos 1 hora mais cedo para preparar um lanche) a idéia é sair entre meia noite e 1 hora da manha para o ataque. A conferir!