Olho o relógio, 01h00. Saímos do abrigo e vimos o céu pela primeira vez, São Pedro recebeu as cartas encaminhadas pelos amigos da ROKAZ e por outros que por nós torciam (valeu moçada!): céu estrelado, nenhuma nuvem. Mas logo veio à cabeça o dia do ataque ao Pequeno Alpamayo, quando saímos da barraca às 02h00 e o céu estava da mesma forma, bem limpo. Nesse dia vimos como é impressionantemente fácil o clima mudar de uma hora pra outra.
Quando saímos do refúgio - animados, tensos, com frio (-5 C) e ansiosos para começar logo - calçamos os crampons, ajeitamos as mochilas, pegamos os piolets e nos desejamos a todos boa sorte em simples olhares e gestos. A hora tinha chegado! Infelizmente, foi a primeira noite que separamos de qualquer membro da equipe, no caso o Gira. Imaginamos como seria bom se ele estivesse lá!
Saímos juntos, 01h15, cada um de nós (eu e Léo) com seu kit pessoal: 500ml de água quente/quatro carb's em gel/duas barras de proteína e um chocolate. Começamos em um ritmo tranquilo, mas logo percebemos que, naturalmente, íamos um pouco mais rápido que a cordada Marco-James-Bruno.
Na primeira parada, após uma longa subida, ficamos alguns minutos esperando por eles (tempo muuuuito longo no frio!) - o que aumenta o desgaste na montanha - e assim que nos alcançaram tratamos de voltar ao movimento. Eles ficaram um pouco para descansar, foi quando começou a aumentar a distância entre os trios.
Já na segunda parada nossa, olhamos para trás e não encontramos eles mais, estavam "escondidos" atrás de algumas curvas. Resolvemos que não daria para esperar, devido ao frio (que só aumentava), e a partir daí empregamos nosso ritmo. O consumo de água era mínimo, apesar de nao ser o ideal, mas só de pensar em tirar a parafernalha toda para eliminar um pouco de uréia já incomodava. Mesmo assim, não deu. Tivemos que fazer uma parada ainda na subida pra aliviar a bexiga (dá trabalho viu - 2 luvas, cadeirinha, 2a pele e, pra coroar, a calça não tinha ziper!).
Cada passo a mais era um passo a menos! Nos perguntávamos com frequência: - E aí? A resposta era sempre a mesma: - De boa demais! Toca toca! Mas sempre sem saber o que viria, ou quanto faltava até o cume (que na verdade é só a metade do caminho), o que não nos deixava 100% tranquilos.
O clima permanecia bom, mas não parei de olhar pro céu nem um minuto, e dizia pra ele: Só mais um pouco, aguenta aí. Ajuda a gente!
O clima permanecia bom, mas não parei de olhar pro céu nem um minuto, e dizia pra ele: Só mais um pouco, aguenta aí. Ajuda a gente!
Começo a filmar os últimos metros após a crista (coisa de +-1minuto). O vento é um absurdo, mais de 100km/h. A emoção começa a explodir, mais ainda está um pouco contida. Ainda está um breu, só é possível ver o chao iluminado pelas head lamps, as luzes de La Paz (El Alto) e os contornos montanhosos do horizonte. Não importa, posso apostar que a sensação é a mesma!!!
05h25 - o guia crava o piolet e nos dá a notícia: "Muy bien. La cumbre"! E nossa reação é repetida pelo guia: "La Cumbre, CARAJO!!!!" Depois disso é só alegria.
Sem a luz do sol, mas sob belas estrelas olhamos o relógio! É difícil conter a emoção e, por alguns instantes, você tem um flashback de tudo importante da sua vida. Nos abraçamos e aí sim começamos a falar tudo o que pensamos e de todos que lembramos (e nos deram forças) enquanto subíamos. Lembrei demais da Fefê, minha namorada, e o quanto gostaria que ela estivesse comigo também.
Na descida, logo após a crista, encontramos Marco-Bruno-James e ficamos muito felizes por estarem ali, pois aida não sabíamos se ainda continuavam na empreitada! Foi muito bom ver que todos estavam bem, juntos! Trocamos uns socos e tapas nas costas (de forma nórdica-viking amígável) e desejamos boa sorte a eles. Sabíamos que como já estavam ali, iam conseguir!
Assim que acabou a crista e chegamos numa parte mais aplainada da montanha, na sua face leste, veio o prêmio: o nascer do sol indescritivelmente mais bonito que já vimos! Nesse momento olhamos lá pro cume, e imaginmos o certo - o Bruno - James - Marco alucinando também! E aí já não importava mais o frio e vento, mas fazer fotos para documentar os momentos era mais que uma obrigação, quase que uma atitude em respeito ao espetáculo que a natureza nos provia. Descer é um suplício - os joelhos doem, o corpo já não responde 100% aos comandos, os passos vão se arrastando... mas o cume parece um recarrecador de baterias, e a empolgação e satisfação que sentíamos nos movia montanha abaixo. É nítida essa diferença se comparamos com o sofrimento de descer do Pequeño Alpamayo, frustrados com a desistência imposta pela montanha.
Continuamos a descida, e lembro-me de ter cruzado com o último grupo, que era composto por casais de idosos, com idades entre 70 e 80 anos! Eram austríacos, e estavam muito bem! Não tivemos notícias se chegaram ao cume, mas ir até onde cruzamos já era um feito! (foto)
08:30 - Já no Campo Alto (7h20min depois), exaustos mas enfim satisfeitos, cada um se enfiou como pôde, sacando apenas os crampons e botas, no saco de dormir. Com poucas palavras trocadas, e uma mistura de expressão de cansaço extremo e sorrisos estampados nas caras, dormi em 20 segundos... e a cada pessoa que chegava, abria 1/4 do olho pra ver se eram o trio Bruno-James-Marco, para comemorarmos!
09:30 - Chega o trio bem sucedido! Cada um contando como sofreu, como curtiu, como cansou, enfim, já fazendo a retrospectiva daquelas horas que certamente foram das mais emocionantes e fortes das nossas vidas.
Sem a luz do sol, mas sob belas estrelas olhamos o relógio! É difícil conter a emoção e, por alguns instantes, você tem um flashback de tudo importante da sua vida. Nos abraçamos e aí sim começamos a falar tudo o que pensamos e de todos que lembramos (e nos deram forças) enquanto subíamos. Lembrei demais da Fefê, minha namorada, e o quanto gostaria que ela estivesse comigo também.
Na descida, logo após a crista, encontramos Marco-Bruno-James e ficamos muito felizes por estarem ali, pois aida não sabíamos se ainda continuavam na empreitada! Foi muito bom ver que todos estavam bem, juntos! Trocamos uns socos e tapas nas costas (de forma nórdica-viking amígável) e desejamos boa sorte a eles. Sabíamos que como já estavam ali, iam conseguir!
Assim que acabou a crista e chegamos numa parte mais aplainada da montanha, na sua face leste, veio o prêmio: o nascer do sol indescritivelmente mais bonito que já vimos! Nesse momento olhamos lá pro cume, e imaginmos o certo - o Bruno - James - Marco alucinando também! E aí já não importava mais o frio e vento, mas fazer fotos para documentar os momentos era mais que uma obrigação, quase que uma atitude em respeito ao espetáculo que a natureza nos provia. Descer é um suplício - os joelhos doem, o corpo já não responde 100% aos comandos, os passos vão se arrastando... mas o cume parece um recarrecador de baterias, e a empolgação e satisfação que sentíamos nos movia montanha abaixo. É nítida essa diferença se comparamos com o sofrimento de descer do Pequeño Alpamayo, frustrados com a desistência imposta pela montanha.
Continuamos a descida, e lembro-me de ter cruzado com o último grupo, que era composto por casais de idosos, com idades entre 70 e 80 anos! Eram austríacos, e estavam muito bem! Não tivemos notícias se chegaram ao cume, mas ir até onde cruzamos já era um feito! (foto)
08:30 - Já no Campo Alto (7h20min depois), exaustos mas enfim satisfeitos, cada um se enfiou como pôde, sacando apenas os crampons e botas, no saco de dormir. Com poucas palavras trocadas, e uma mistura de expressão de cansaço extremo e sorrisos estampados nas caras, dormi em 20 segundos... e a cada pessoa que chegava, abria 1/4 do olho pra ver se eram o trio Bruno-James-Marco, para comemorarmos!
09:30 - Chega o trio bem sucedido! Cada um contando como sofreu, como curtiu, como cansou, enfim, já fazendo a retrospectiva daquelas horas que certamente foram das mais emocionantes e fortes das nossas vidas.
Dois ensinamentos bem aprendidos:
- Apesar de almejar muito ao longo de toda a viagem, o cume é bônus! O que vale é a diversão na montanha (ou perrengue - o que não quer dizer que nao é divertido também,rs.).
- Nossas avós já diziam: "O apressado come cru", no nosso caso, o cume no breu .rs.